sexta-feira, 17 de junho de 2011

Reflexões do estágio na Escola Vilma Brito - PART I

Como diz Pimenta e lima (2004), “Um dos primeiros impactos é o susto diante da real condição das escolas, e as contradições entre o escrito e o vivido, o dito pelos discursos oficiais e o que realmente acontece.” Partindo desse pressuposto podem-se perceber alguns sentimentos e frustrações vivenciadas por mim na primeira semana de estágio.
Na construção dos planos, das intervenções e do projeto, pensava muito em como procederia em sala de aula. Diversas coisas vinham em mente como, desejos, anseios, metas, nesse momento a motivação estava completamente elevada. O desejo de ensinar, mostrar minha capacidade e disposição na ação docente era nítido. Por mais que eu já tenha experiência em sala de aula, de pouco tempo, não é algo que eu possa dizer que foi significativo, pois, todo processo não foi construído de forma sistemática, densa, isto é, não houve um trabalho gratificante que envolvesse uma gama de pesquisa e estudos para chegar a uma sala de aula. Por outro lado, ainda tinha uma sala com alunos de várias idades, e alguns nem sequer sabiam ler, nem tampouco escrever e as condições da escola eram precárias. Já no momento do estágio supervisionado, pensei que devido à todo um trabalho antecedente, seria tudo diferente, e teria mais disposição para enfrentar a sala de aula. Contudo, posso dizer que algumas coisas não mudaram, como a não pretensão de continuar nessa profissão, e que por mais que você queira uma coisa, as coisas nunca caminham como você quer necessariamente.
A reflexão sobre a ação docente foi algo inevitável. Percebi que, nem sempre é o professor o culpado de todos os males e acontecimentos negativos em sala de aula, e que às vezes, por mais que você faça a coisa certa, muitas vezes não se tem o retorno. Não negarei a importância da pesquisa e do planejamento, são duas coisas fundamentais no processo. O planejamento proporcionou segurança, tranqüilidade para se trabalhar. E a pesquisa e as teorias possibilitaram a reflexão sobre a minha própria ação docente, proporcionando a mudança quando necessário e mostrando alguns procedimentos e estratégias de como ensinar. Assim, “o movimento permanente de questionamentos e aprofundamentos visa a ajudar o/a professor/a entender melhor e redimensionar seu cotidiano.” (Esteban e Zaccur, 2002, p.22). Para Freire (2003) é necessário que o professor reflita criticamente sobre sua ação docente, para que a teoria não vire um mero discurso e a prática não vire apenas uma reprodução alienada.
 Os primeiros dias de estágio foram desafiadores. Apresentamos as intervenções, contudo, as dificuldades de aprendizagem, a falta de atenção, e a diversidade entre os níveis cognitivos dos alunos eram angustiantes. No entanto, a maioria dos alunos participava da aula e fazia as atividades. Havia apenas um grupo de meninas que conversavam muito durante a aula, mas resolvia-se rápido o problema quando separávamos todas, e também dois meninos que não nos obedecia de nenhuma forma.
Desse modo, “ensinar é algo como mover-se profissionalmente em espaços problemáticos.” (Zabalza, 2003, p.70). É o espaço onde os dilemas e desafios surgem, um contexto de incertezas, sendo necessários na maioria das vezes prever comportamento para evitar problemas.
No decorrer da semana percebi que a turma era muita fraca. E a dificuldade em se concentrar e assimilar um determinado conhecimento era muito grande. A desmotivação aparecia, por que todo trabalho duro que tínhamos, muitas vezes não era aproveitado pelos alunos. O trabalho era exaustivo e estressante. Repetíamos várias vezes um determinado assunto e no fim, alguns alunos não conseguiam acompanhar. No fim da tarde o cansaço aparecia, mas no outro dia surgia a esperança de que tudo iria ser melhor.

PIMENTA, Selma Garrido e LIMA, Maria Socorro Lecuna. Estágio e Docência. São Paulo: Editora Cortez, 2004.
ESTEBAN, Maria e Tereza e ZACCUR (orgs). Professor Pesquisador: Uma Prática em Construção. Rio de Janeiro: Editora DPIA, 2002.
FREIRE, P. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA - saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2003.   

PARTE II


A segunda semana de estágio foi mais conturbada que a primeira. Os alunos estavam mais agitados, a maioria da turma não estava mais colaborando com as aulas e o desrespeito imperava. Algumas estratégias para contornar a situação foram feitas como, um momento de relaxamento com os alunos depois do intervalo, pois é a hora que eles estão mais agitados, e os castigos, os alunos que não cumpriam com seus deveres ficavam sem ir ao recreio, e aqueles que de nenhum modo obedeciam era levados para a diretoria. Nesse momento onde surgem os problemas é quando pensamos em “o que fazer?”. É quando a pesquisa, a reflexão sobe a ação e a mudança de atitude torna-se algo fundamental para poder contornar e resolver os desafios surgidos no cotidiano escolar.
A motivação de estar ali, não mais existia, e o estresse e o cansaço por conta da desobediência e o descaso por parte da maioria dos alunos que atrapalhavam a continuidade da aula era inevitável. É nesse momento que percebemos a importância do controle e da gestão de classe para que a aula possa ocorrer e os alunos possam aprender de forma significativa. "A gestão da classe consiste num conjunto de regras e de disposições necessárias para criar e manter um ambiente ordenado favorável tanto ao ensino quanto à aprendizagem" (Doyle, 1986). Os alunos só queriam copiar o conteúdo do quadro, não se preocupando em prestar atenção ou em esperar que nós mandássemos. Os melhores dias para aula eram nas quartas e sextas. As quartas antes do intervalo era o momento em que os alunos dividiam-se em dois grupos, metade se direcionavam a sala de leitura com uma professora específica da escola, metade ficava na sala e somente se encaminhava para lá quando o outro grupo voltava. Geralmente permaneciam oito alunos de níveis semelhantes para que o trabalho fosse melhor. Assim, a aula corria tranquilamente com a participação de todos, geralmente na leitura do alfabeto e das sílabas chamávamos um a um no quadro, e no momento da codificação e decodificação da palavra geradora todos ouviam atentamente. Na maioria das vezes os mais desobedientes são aqueles que apresentam dificuldade de aprendizagem, aqueles que malmente sabiam identificar uma letra do alfabeto. Na hora da atividade era sempre uma confusão. Como a maioria dos alunos não sabe ler, todos querem um momento de explicação, ajuda e apoio.
Utilizamos também, algumas estratégias para ocupar os alunos que terminavam rápido uma atividade. Sempre levávamos atividades extras, caça – palavras e etc para mantê-los quietos. Era a atividade favorita deles. Nessa situação, percebemos aqui o quanto é importante o professor prever situações que podem vir a acontecer para evitar problemas. Diante das incertezas do cotidiano escolar é necessário que o professor use a intuição, o conhecimento que ele já tem sobre aquilo, é quando nos deparamos com a complexidade da docência por que, para ser professor não há receitas, nem bulas, é no dia a dia em sala de aula que se desenvolve e se constrói o profissional docente.

PARTE III


 De acordo com Zabalza (2003) “pode-se dizer que ensinar é algo como mover-se profissionalmente em espaços problemáticos, ir resolvendo neles sucessivos dilemas práticos que vão surgindo. Assim, na terceira semana de estágio ficou nítido o dilema entre família versus escola, quando uma criança trouxe uma atividade de casa em branco dizendo que não respondeu a tarefa por que não tinha ninguém para ensiná-la.
Várias são as explicações a respeito da ausência dos pais de classe baixa, na formação educacional dos seus filhos, cultural, econômica, social, porém é nítido dizer que a família ao longo dos anos tem transferido o papel de educar os seus filhos à escola, como se o seu papel fosse apenas de sustento e ceder uma moradia.
Desse modo, na terceira semana de estágio foi percebido que a dificuldade de algumas crianças estava no fato de que os próprios pais não colaboram na educação de seus filhos. Neste sentido, fica claro que não são apenas os professores, não é apenas a escola que vai contribuir para um bom desenvolvimento do aluno, nas diversas áreas, até por que, o tempo que o aluno passa na escola é mínimo comparado ao que este passa em casa, esse bom desempenho depende estritamente de um acompanhamento dos pais sobre a educação escolar de seus filhos. Deste modo, segundo Hulsendeger (2006) “é preciso trazer, o mais rápido possível, a família para dentro da escola. É preciso que ela passe a colaborar de forma mais efetiva com o processo de educar. É preciso, portanto, compartilhar responsabilidades e não transferi-las.” 

Disponível em <http://www.espacoacademico.com.br/067/67hulsendeger.htm>


PARTE IV


 
O estágio de formação docente é o momento em que podemos vivenciar e perceber os dilemas, desafios e as dificuldades que se apresentam na sala de aula. Tendo em vista isto, nota-se a importância de um professor reflexivo, capaz de mudanças, que se adéqua as necessidades do aluno e tenta resolver os desafios que surge em meio ao dia a dia em sala de aula.
Assim, em toda a semana que percorria refletíamos acerca de algumas necessidades visíveis para se trabalhar com os alunos, partíamos sempre de questões que surgiam no decorrer da semana, alguma dificuldade cognitiva que as crianças apresentavam, ou alguns temas transversais que possam vir a ser trabalhados.
Partindo disso, na quarta semana de estágio notamos a necessidade de se trabalhar higiene pessoal e boa saúde com aquelas crianças. Levamos os materiais de higiene, explicamos a finalidade e por que são fundamentais para o uso no dia a dia. A aula fora bastante dinâmica, com a participação de todos, e ao final mostramos a maneira certa de como escovar os dentes.
Tendo em vista isto e todo o momento de estágio podemos ver que “... ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção." (FREIRE, 2003, p. 47). É saber que estamos lidando com sujeitos e não objetos, e que estão a cada dia em processo de construção. É ter que lidar com as incertezas e ter a capacidade de enfrentá-las. Por fim, ensinar exige comprometimento, engajamento, é estar ciente de que a presença do professor no espaço escolar não passa despercebida pelos alunos.
Portanto, no dia a dia em sala de aula construí e desconstruí atitudes e idéias que ao longo do período de formação estabeleci, pois cada dia em sala de aula era algo novo e único e o “ser professor” é um “eterno fazer-se”.

FREIRE, P. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA - saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2003.